quinta-feira, 14 de julho de 2011

Escassez de domésticas pode mudar hábitos da classe média



A menor oferta e a maior renda de empregadas domésticas podem trazer "impactos profundos" para a sociedade brasileira, dizem analistas, obrigando famílias a reorganizarem suas vidas e hábitos domésticos. Luana Pinheiro, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), explica que "as classes média e média alta se organizaram em função do trabalhador doméstico, que estrutura suas vidas e possibilita suas jornadas de trabalho".

De acordo com a pesquisadora, que é socióloga, a migração de mulheres jovens para outros setores do mercado de trabalho formal tende a reduzir a oferta de trabalhadoras domésticas, mas a demanda continua alta.

"Essa não-reposição [de profissionais na categoria] pode ter impactos muito profundos na sociedade. Se a oferta se tornar muito pequena, as famílias podem ter que se reorganizar e redistribuir as tarefas domésticas".

Famílias acostumadas à ajuda doméstica terão que encontrar novas maneiras de dar conta de cuidados com filhos, limpeza e alimentação, diz Pinheiro, e adotar uma divisão de tarefas mais equilibrada entre homens e mulheres.

Mas também o Estado será chamado à responsabilidade, afirma a socióloga, preenchendo lacunas que vêm sendo compensadas por trabalhadoras domésticas. "O Estado vai ter que compartilhar com as famílias a responsabilidade por atividades como o transporte escolar e a oferta de creches. Os cuidados não devem ser responsabilidade só da família, ou só da mulher dentro da família. Se for assim, quem tem dinheiro resolve, quem não tem não resolve".

Luana Pinheiro, do Ipea, explica que "os cuidados não devem ser responsabilidade só da família, ou só da mulher dentro da família. Se for assim, quem tem dinheiro resolve, quem não tem não resolve".

De acordo com o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o processo de entrada das mulheres brasileiras no mercado de trabalho, no passado, veio apoiado no trabalho doméstico. As empregadas permitiram que “as mulheres deixassem a casa e fossem trabalhar”. Tanto que o processo incluiu a entrada de uma legião de mulheres de baixa escolaridade no mercado, na retaguarda.

Para Neri, agora começa 'a segunda etapa da liberação feminina'.

"Está havendo e vai continuar a haver uma mudança no mercado, permitindo a liberação das empregadas domésticas de um trabalho pouco qualificado".

A seu ver, isso vai trazer mudanças culturais para a sociedade e fazer com que novas tecnologias sejam incorporadas aos lares para compensar pela falta – ou redução – da ajuda doméstica.

Mesmo domésticas poderão ter que readequar sua rotina de trabalho: de acordo com pesquisa do Data Popular, 17% das empregadas no Brasil (mais de um milhão de pessoas) contam com ajuda de outros trabalhadores em suas casas para poder sair para trabalhar.

Fonte: BBC Brasil

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